Oi sheyna. Aqui em Fortaleza estamos te recebendo pela primeira vez. Você pode falar um pouco sobre você e sua trajetória no meio artístico?
RES.:
Olá Sabacu!É um enorme prazer participar desse lindo projeto, e também é a primeira vez que venho a Fortaleza! Eu comecei minha carreira como atriz, cursei o técnico em artes dramáticas na Fundação das Artes (FASCS-SP), onde participei de grupos de pesquisa em teatro do absurdo, butoh, view-points e teatro-dança. Profissionalmente participei do Núcleo 1408 onde trabalhávamos muito com técnicas de movimento e dança como educação somática e teatro físico. Em 2009 integrei o elenco de “Os 120 dias de Sodoma” daCia Os Satyros, com direção de Rodolfo Garcia Vazquez. Mesmo o teatro já ia me levando de alguma maneira para a dança....Em 2010, entrei na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pra cursar o Bacharelado em Dança e no mesmo ano comecei o curso técnico de formação em corpo de baile do Centro de Dança Rio. Em ambas instituições fui bolsista participando de grupos de pesquisa e apresentações.
Participei de congressos, conferencias, seminários e espetáculos. Em 2013 surgiu a oportunidade de fazer intercambio na Université de Lyon 2, na França, por um semestre acadêmico no curso de Artes do Espetáculo. Lá pude cursar disciplinas de cinema e artes visuais, além das disciplinas de teatro e dança (teoria e prática), que me ajudou a solidificar meu pensamento na criação artística em artes integradas. Já em 2014, quando voltei, surgiu a oportunidade de apresentar um projeto para curadores iberoamericanos no evento “Rede FUNARTE Iberoamericana de Dança”, onde conheci Alejandra Diaz diretora do CREAR EM LIBERTAD. Meu projeto de Residência Artística “Entre Escombros” foi aprovado, resultando no espetáculo “Escombros de uma casa-barco” (http://crearenlibertad.wix.com/escombros)apresentado no marco do 14. Encuentro de Danza y Artes Contemporáneas CREAR EM LIBERTAD. Em 2015 fui contemplada pelo edital de Estancia de Creación do Ministério de Relações Exteriores (AMEXCID) para desenvolver esse projeto “A poética da vida em poluição”que será apresentado no SABACU. “A poética” foi desenvolvido como projeto interdisciplinar com apoio do CRAM (Centro Regional de las Artes de Michoacán) sob direção de Diana Correa, e os artistas residentes aí como LuisMa Ortiz, Karén Cortés, Martha Tafolla e Laura Avalos. Artistas da cidade de Zamora também participaram do projeto, como os fotógrafos Luis Luna, Ricardo Galván e Rafael Esquível. O vídeodança do projeto foi selecionado para o Dança em Foco 2016 e o livro que conta um pouquinho da pesquisa teórica do projeto desenvolvido como meu trabalho de conclusão sob orientação de Roberto Eizemberg está disponível no site do projeto:http://lapoeticadelavidae.wix.com/lacontaminacion
Atualmente coordeno o 15. Encuentro Internacional de Danza y Artes Contemporáneas CREAR EM LIBERTAD, que acontece na cidade de Assunção-Paraguai. Também participo das montagens da performance “Damiana” sob direção do artista plástico Gustavo Benítez e do espetáculo “(i)Migrações”, que é uma produção colaborativa com o fotógrafo Xoán Garcia Huguet, a coreógrafa Alejandra Diaz e o professor e artista de vídeo e efeitos especiais Luciano Saramago.
2. O motivo que te trouxe a Fortaleza foi o Movimento Sabacu da arte no sistema, que é realizado na periferia do bairro Pirambu aqui em Fortaleza. Porque esse projeto despertou seu interesse?
SABACU me chamou atenção pela grandiosidade da proposta, no sentido de diversificar as linguagens artísticas disponíveis para sua comunidade (em espetáculos, mesas de debates, oficinas, etc.), as temáticas de cunho social que mobilizam as pessoas para um futuro sustentável, para o cuidado com o meio ambiente, e o desejo de mudança, tolerância, igualdade e solidariedade na sociedade atual. Atitudes como essa é que fazem mudar o mundo... E eu quis fazer parte de alguma maneira desse projeto.
3.Como surgiu o projeto "A poética da vida em poluição"?
O projeto surgiu do desejo de denunciar de maneira poética a discriminação em relação ao meio ambiente. As noticias da poluição na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, do ar na cidade de São Paulo, a tragédia de Mariana...É um profundo desejo de voltar o olhar da sociedade para o meio ambiente, porque sem ele, não sobrevivemos. E como minha vida esta na arte, decidi usar minhas ferramentas para potencializar e compartilhar esse desejo.
4. E como surgiu a ideia da oficina “Site Specific”?
“Site Specific” é uma pesquisa em criação artística que vem sendo desenvolvida a muito tempo por artistas de diversas áreas e linguagens.
Comecei essa investigação durante a montagem de “Escombros de uma casa-barco”, e deu super certo. Então resolvi continuar.Repeti a ideia da oficina no CRAM com alunos de idades entre 15 e 60 anos. E foi outra experiência maravilhosa.
5. Quais os elementos que essa oficina trabalha?
A ideia da oficina é trabalhar a criação artística interdisciplinária no contexto espacial.
“Site Specific” são criações para lugares específicos, então trabalha a criação dentro dos conceitos da arquitetura dos espaços, que pode ser num teatro, numa galeria de arte, na rua, em casa.... qualquer lugar. A ideia é que seja uma criação específica para o lugar escolhido, utilizando os elementos espaço-temporais característicos como parte da obra.
A oficina é divertida e libertadora, porque trabalha princípios geradores associados à criação. Cada participante é livre para tratar dos temas que mais o mobilizam, e o local também fica aberto para escolha... assim vamos descobrindo e trabalhando juntos... A ideia é criar uma mostra com os trabalhos desenvolvidos e apresentar de forma itinerante, onde o publico segue acompanhando cada performance.
6. Você indicaria essa oficina para que tipos de pessoas?
Qualquer pessoa pode participar da oficina. Dessa vez sugeri pessoas com idade acima de 18 anos porque vamos trabalhar no meio urbano também, o que acarreta mais responsabilidade e saber lidar com a improvisação, já que estamos lidando com lugares públicos.Não há necessidade de conhecimento prévio, apenas muita criatividade. Quando na turma existem pessoas como estudantes ou profissionais de dança, teatro, musica, costumo usar alguns termos mais técnicos, mas todos conseguem compreender, aprender e criar...Alguns dos alunos utilizaram o que criaram na oficina para continuar e resultou em performances e espetáculos....
7. É uma oficina onde podem ser trabalhadas múltiplas linguagens. Como isso acontece?
Hummmm é difícil dizer porque com cada turma acontece de uma maneira diferente, mas vou dar um exemplo...
Um artista de musica, instrumentista por exemplo que participe da oficina pode tocar pra um bailarino e acabar dançando, interatuando com o espaço.
Ao mesmo tempo, o espaço escolhido pelo musico pode ter um eco especial e ele pode trabalhar com os efeitos do espaço na ressonância de cada nota musical, enquanto um artista plástico esculpe algo no concreto da cidade...
Um bailarino pode trabalhar com um artista visual, criar uma videoperformance ou pintar o bailarino....A criação multidisciplinar se dá nos encontros...
8. Que atividades você estará realizando no Sabacu da arte no sistema?
Farei apresentação da performance “A poética da vida em poluição” nos dias 9 e 10 de Julho. No dia 8 farei apresentação do livro, contando um pouco da pesquisa teórica do projeto e será apresentado o videodança. Espero que vocês venham, participem e gostem! Estivemos gestionando, produzindo e sonhando com esse momento já alguns meses e finalmente estamos realizando com muito carinho!