sábado, 27 de junho de 2015

Sabacu no sistema de Comunicação! Ari Areia na roda de conversa "Quem é o Público: dialogo sobre formação de plateia"

"Muito legal ouvir os relatos de vocês, a relação que vocês criaram com o público no entorno do espaço que vocês escolheram para existir. 
A contribuição que eu posso dar, dentro dessa construção de pensamento, é a minha experiência como comunicador. Eu acho que o ator também é um comunicador, pensando o teatro como um canal de transmissão de algo que o artista quer dizer, assim como a arte em si. 

Pensando o teatro como arte, que também é canal de comunicação.  As pessoas querem ver! Elas estão dispostas a assistir. Quando a gente pensa isso, a gente tira aquele pensamento de que tem pouca gente na plateia porque Fortaleza tem pouco público para teatro. 

Acho que a grande questão é como fazer as pessoas saberem que aquilo está acontecendo, desde você sair em cortejo nas ruas do bairro para alarmar e mostrar que hoje vai ter, ou ir de casa em casa, enfim... Como fazer as pessoas saberem que vai acontecer? 


 E ai podemos pensar também como dar um sabacu nesse sistema de comunicação que muitas vezes silencia maior parte das coisas que acontecem na cidade, em favor de duas ou três atividades que são consideradas atividades de grande alcance, porque são para públicos de massa
Não entrando na questão da valoração de que o teatro que se faz aqui no Pirambu, seja melhor ou pior do que o teatro que alguém faz em outro lugar. 
Quando eu me formei em jornalismo, eu fiquei muito em dúvida se eu queria trabalhar na redação ou não, eu já tinha passado pela redação como um ambiente muito frenético, muito louco e você não ganha tanto. 
Então eu decidi continuar insistindo no teatro, porque eu não consigo ficar parado nesse sentido, e vou tentar contribuir com o que eu tenho de conhecimento acumulado no jornalismo dentro disso aqui. 
Hoje eu trabalho como parlamentar na área cultural, propondo questões de cultura na área municipal, e trabalho também com comunicação cultural
Recentemente eu trabalhei com o pessoal do teatro esgotado, do Robson Levy, eles estrearam em janeiro o “Elefantes famintos”, eles me chamaram para ver um ensaio, eu fui lá assistir, é um trabalho super conceitual, totalmente oposto ao que seria um teatro comercial, e ele estava preocupado em como mobilizar o público e, com relação ao contato com a imprensa, eu reconheci que teria uma grande dificuldade em chegar aos veículos pela própria natureza do espetáculo, ele tinha medo de ter que modificar a obra dele para conseguir chegar nos jornais, na TV e tal. 
A gente não precisa modificar o que é o trabalho, a gente pode pensar em como apresentar o seu trabalho de uma forma que fisgue o jornalista e que ele entenda. Ele tinha me mandado um material sobre o processo de construção do pensamento do espetáculo, e eu percebi que se você realmente não estivesse no processo você não conseguia fazer os links, e também não tem um texto verbal, é um roteiro de ações. A maioria dos jornalistas que atuam hoje no Ceará não são especializados em cultura, eles se formaram em jornalismo, e vão aprendendo na redação, é por isso que muitas vezes eles cometem erros quando vão falar do trabalho da gente. Então se o cara recebe um material filosófico demais, ele acaba não traduzindo bem aquilo pro papel, e às vezes ele descarta a pauta porque ele não conseguiu ler aquilo, a gente trabalhou numa forma de tentar tornar mais compreensível para o jornalista e atrativo para ele. 
Foi um trabalho que teve muito sucesso nesta intermediação com a mídia. Eles conseguiram entradas em TV, o pessoal da Band News levou eles para um debate num programa de quase uma hora que passa as 17h da tarde, com o retorno disso ele ficou muito surpreso com essa questão de não ter precisado “enformar” o trabalho para que houvesse essa articulação. 
Eles conseguiram um público muito legal, com sessões cheias e era um público que não eram os colegas da classe, conseguiu chegar numa galera que era tipo, um grupo de professores universitários, enfim, ele conseguiu se comunicar com outro público
E ficamos pensando sobre essa questão, de que existe gente querendo ver teatro em Fortaleza, então como fazer essa cidade saber o que a gente tá fazendo? 
Pensando em dar acesso as pessoas. 
Está acontecendo o Sabacu da arte no sistema, com várias apresentações lá na Nossa Senhora das Graças, será que um cara que mora no Curió não vai se interessar em saber? Ele precisa ter acesso a isso. 
O jornalista ele está a fim de escrever sobre isso, eu ouvindo o depoimento de vocês penso que dá pra escrever umas trinta matérias sobre essa experiência de resistência, de construção de laços com as pessoas que moram no entorno do espaço, tem ganchos incríveis para um texto jornalístico. A gente cria uma imagem de que é um ambiente fechado, existe esse fechamento mesmo, existe essa quase blindagem, mas a gente consegue derrubar isso e criar diálogos e a partir desses diálogos a gente consegue potencializar esses discursos. 
Está com mais ou menos um seis meses, eu estive aqui no EITA conversando sobre essa coisa de comunicação e a gente falou sobre a nossa relação direta com o nosso publico, que a gente pode ter canais como facebook, blog, o pessoal do Nóis de teatro tem um jornal,  tem como a gente ir criando canais e a gente pode ligar para as redações, se identificar e sugerir uma sugestão de pauta, ai você manda o material pro e-mail deles, depois liga perguntando se eles receberam, se tem alguma dúvida e isso deve instigar eles a escreverem sobre isso. 
Será que a gente está perdendo alguma coisa em mandar? Eu acho que não. 
E quando a gente manda esse material a gente manda um e-mail, com release, que é um texto que é quase uma matéria, coloca um titulo chamativo, coloca as informações básicas do que é o evento. Isso serve para qualquer evento e espetáculo, legal também colocar uma fala ou comentário de alguém sobre o evento, colocar fotos porque chama atenção e telefones de contato. O importante é chamar atenção dessa galera
Se a gente está criando uma relação direta com as pessoas dessa rua, independente de sair em jornal e TV, a gente precisa atingir as pessoas que estão ali, mas a importância desse contato com a imprensa e que isso fica registrado. 
Eu conversei com os meninos daqui do EITA quando eu vim, sobre a importância de ter um blog atualizado, até para não ficar refém dessa imprensa oficial, ter registro, ter um material histórico guardado,  porque daqui a vinte anos pode vir um cara da universidade que queira fazer uma pesquisa sobre esse sabacu. A gente não precisa ficar refém da mídia oficial, mas acho que a gente também não pode se privar de tentar. Quando você tá na redação é sempre uma roleta russa, porque a gente manda o material, mas quem vai decidir se vai ser pautado ou não são os editores, mas se você não mandar a chance deles ficarem sabendo é bem menor. 
A minha contribuição e mais uma mostra de possibilidades, existem pessoas acessíveis dentro das redações. 

(Sabacu da arte no sistema 2015.Ari Areia na roda de conversa "Quem é o Público: dialogo sobre formação de plateia" 20/06/2015)

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